"É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça."
Cora Coralina
"Como aqueles primitivos que carregam consigo o maxilar inferior de seus mortos, eu te carrego comigo, tarde de maio..."
C.D. Andrade
"No estoy seguro de que yo exista, en realidad. Soy todos los autores que he leído, toda la gente que he conocido, todas las mujeres que he amado, todas las ciudades que he visitado, todos mis antepasados…"
Jorge Luis Borges
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro da circunferência, que, quanto mais continuadas, tantos menos unidas. (..) A razão natural de toda essa diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso quanto mais o amor?
Padre Antonio Vieira, Sermão do mandato
Soneto 29
De mal com os humanos e a Fortuna,
choro sozinho o meu banido estado.
Meu vão clamor o céu surdo importuna
e olhando para mim maldigo o fado. (amaldiçoo meu destino)
A querer ser mais rico em esperança,
como outros ter amigos e talento,
invejando arte de um, doutro a pujança,
do que mais gosto menos me contento.
Se assim medito e quase me abomino,
penso feliz em ti e meus pesares
(qual cotovia em vôo matutino
deixando a terra) então cantam nos ares.
Tão rico me é teu doce amor lembrado,
que nem com reis trocava meu estado.
Shakespeare
Mais bela das árvores
Mais bela das árvores, a cereja agora
Está com flores dependurada no galho
E fica à beira do caminho na floresta
Vestindo branco para a Páscoa.
Agora, de meus setenta anos,
Os vinte não mais voltarão,
E tirando de setenta primaveras vinte,
Só me restam mais cinquenta.
E já que para ver o florescer das coisas
Cinquenta primaveras são pouco tempo,
Pelas florestas eu irei
Para ver a cereja dependurada com neve.
John Duke